Os olhos ainda estavam inchados pela noite anterior e quase insone, uma pequena parcela do álcool permanecendo presente no sangue quando acabou
atravessando até o dormitório da segunda. O pavilhão bem iluminado agredia as pupilas ao ponto de se tornar um incômodo, fazendo-se necessário o uso do óculos escuros mesmo em um local parcialmente fechado: luzes fortes e claras que se acendiam aos campistas pelo final da tarde, banhando as camas com um brilho esbranquiçado. Ragnar, com um balançar desajeitado do rabo espinhado, parecia o oposto do filho de Loki. Animado demais para o horário. Agitado demais para um espaço em que não deveria estar.
— Por favor, deixem os problemas para amanhã. — Ladrou à guisa de boa noite, massageando as têmporas. Vinte passos foram o suficiente para afastá-lo dos outros semideuses no caminho até a entrada, marcada pelas bandeiras da segunda, grandes, largas e orgulhosas. A marca da grandeza do pavilhão, tão idêntico a todos os outros, morava nos detalhes. Nas flâmulas numerosas que agitavam com a menor das brisas. Nas tatuagens que compartilhavam. No ar característico e quase palpável da competição visceral e sempre presente. Se o destino existisse, então nasceram, todos ali, para perseverar. Para um dia superar a primeira e, quem sabe, tornar-se verdadeiramente a cara do Júpiter. Por mais que fingisse descaso, mesmo Daimon era incapaz de negar o fogo que lhe corria o sangue.
— Eh, desgraça! — Ralhou quando, nas dez primeiras passadas de sua tentativa de caminhada, a grande águia agitou o vento ao redor, passando em rasante por sua cabeça. O papiro largado viera forte o suficiente para quase acertar-lhe a cara, enrolado em um requinte perfeito que denunciava sua origem mesmo antes de verificar o selo ou o conteúdo que tão bem guardava. Aparentemente, nem mesmo as aves oficiais do acampamento eram exatamente suas fãs. Ragnar, que o seguia de perto, rosnou em ameaça, os olhos fixos nas asas de penas brancas como se cogitasse seu gosto para um jantar adiantado.
— Deixe-a, Ragie. — Exigiu enquanto desenrolava o papel. Vinte palavras em caligrafia rígida e bem formulada. Um recado simples e bastante direto.
A sua presença é imprescindível para a reunião da cúpula hoje, a partir das sete.
Local: Principia.
Frank Zhang,
Pretor.
— Bom, parece que saímos da linha dessa vez... — Resmungou mais para si mesmo do que qualquer outra coisa, descendo a destra para a cabeça do animal. Com um suspiro meio exasperado, ajeitou a própria postura, pensando em toda e qualquer merda que pudera ter feito nas últimas semanas. Sua missão de reabastecer a enfermaria não fora exatamente um sucesso, a bem-dizer. O que, ainda assim, não parecia justificativa suficiente para tornar-se alvo da atenção do Pretor. No fundo, Daimon ainda achava que o outro não exatamente gostava de sua presença.
— Ficará de fora, Ragie. E sem barulhos, está bem? —Anunciou em alto e bom som enquanto tomava o rumo necessário. Mentalmente, pensava nos subterfúgios que lhe seriam aliados quando alguns assuntos surgissem, deslizando a canhota pelos fios escuros a cada passo firme na direção da Principia em uma demonstração de pura ansiedade.
Se pudesse descrever as expectativas para o fim de tarde, quase noite, de seu retorno ao Júpiter, um encontro com Zhang seria a última coisa que poderia listar. Na verdade, teria preferido recolher a bosta dos estábulos de Pegasus a enfrentar o rapaz, em especial quando não tinha certeza do motivo.
"Não recuamos." Lembrou-lhe Ragnar em um murmúrio meio rosnado. Com pouquíssimas palavras trocadas entre ambos, era sempre uma surpresa quando a voz feral invadia os próprios pensamentos. Uma surpresa muito bem-vinda e uma forte fonte de conforto.
— Não recuamos. — Concordou simplesmente, sorrindo ao animal.
— Nunca. — Acrescentou em um sussurro assertivo. Porque, apesar dos erros, era seu o cargo de Centurião da Segunda. Porque, mesmo depois de tudo, ainda faria qualquer coisa em nome do acampamento, mesmo que envolvesse ouvir vinte minutos de bronca.
O que, a julgar pela pequena multidão de centuriões e instrutores que começavam a se reunir na Principia quando a alcançou, não seria mesmo o caso. Há poucos metros, se despediu de Ragie com um "até logo". Só então, se embrenhou no meio do pequeno conjunto de semideuses.
- Observações:
- Poderes Usados:
{p} Følelser: Criados pela mesma deusa, com a linha da vida interligada uma na outra, Daimon e Ragnar podem compartilhar sentimentos, pensamentos, emoções e sentidos.
- Armamento:
[Oplade]: (Espada de uma mão) feito de ferro celestial, é uma arma com lâmina de 80cm. O cabo é feito de uma rara madeira de ébano. Seu formato ergonômico se encaixa perfeitamente na mão do portador; atributo base força; dano +10; +5 contra monstros; transforma em um anel de prata quando desativado[Presente Divino]
- Mascote:
Ragnar [Filhote de Dragão Negro]